A arte tem o poder de transformar, e quando se une à tecnologia esse impacto se amplia. É o que acredita a artista Marta Henriksen, conhecida como Miss, que acaba de pintar um mural em prédios da CDHU no bairro Padre Anchieta, em Campinas. A intervenção integra o projeto Paisagem Urbana, idealizado pela muralista, que começou com as pinturas e terá continuidade no evento de lançamento em 4 de outubro, às 17h, com projeções audiovisuais, vídeo imersivo em realidade virtual e recursos de realidade aumentada, que criam novas camadas artísticas para o espaço. A iniciativa foi contemplada pela Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB).
Miss trouxe para o projeto uma pintura inspirada em formas geométricas, característica central de seu estilo, mas em uma versão que ela considera mais madura. “É uma ilustração que mantém esses formatos geométricos, cores muito fortes e símbolos da natureza. A obra está em uma região que enfrenta adversidades e quero transmitir uma sensação de tranquilidade e aconchego, um espaço de acolhimento e até de proteção divina”, afirma.
Ela dividiu as “telas” (duas enormes laterais de prédios) com a artista Gislaine Martins, a Gim, que trabalha com ilustrações figurativas surrealistas e trouxe o tema da maternidade para o mural. “Costumo falar sobre a relação que temos com nós mesmos, nossos sentimentos, emoções e vivências. Também sobre as conexões interpessoais que vamos conquistando ao longo da vida e como elas nos trazem ensinamentos e reinvenções de quem somos. Aqui, quis falar sobre essas relações e descobertas”, explica. Para isso, utilizou tons que remetem ao pôr do sol.
Os grafites começaram no dia 15/09 e vão ser finalizados dia 30/09.
Realidade aumentada e vídeo mapping
Com os pincéis de lado, a segunda etapa do projeto foca na tecnologia. As imagens do processo de criação dos murais foram registradas e transformadas em um vídeo imersivo. “Nossa intenção é que as pessoas compreendam o processo criativo, sintam como foi realizar essa obra e possam se sentir um pouco artistas também”, explica Marta. O vídeo será exibido durante o evento de lançamento, o Festival Paisagem Urbana, no dia 4 de outubro, gratuito e aberto à população, e poderá ser assistido por meio de óculos de realidade virtual que colocam o espectador no ponto de vista das artistas.
Outra experiência tecnológica permitirá sobrepor novas camadas às pinturas. Com o uso de um filtro acessado pelo celular, os participantes verão as obras transformadas em novas imagens. O QR Code que dá acesso a essa interação ficará disponível por pelo menos um ano, em cartões distribuídos no evento. Dessa forma, a intervenção tecnológica não se limita ao dia do lançamento.
Para encerrar, o público será presenteado com um espetáculo de vídeo mapping, técnica que projeta luzes e imagens sobre as fachadas pintadas, criando um festival visual que terá cerca de uma hora de duração.
À frente da parte tecnológica do projeto está Thiago Toshio, tecnólogo criativo especializado em experiências imersivas que transformam tecnologias emergentes em ferramentas de expressão e impacto social. “No Paisagem Urbana, acredito que a tecnologia não vem para substituir, mas para somar. Quando usamos realidade aumentada, cinema 360 ou inteligência artificial junto com a arte urbana, criamos novas formas de olhar para o que já está ali. O papel da arte é dar sentido humano à tecnologia, e o da tecnologia é abrir caminhos para que mais pessoas se conectem com a arte. No fim, tudo é sobre criar encontros, conversas e experiências que transformam a cidade e a vida das pessoas de forma coletiva”, afirma o cofundador da produtora GoVision e idealizador do projeto BoomReal.Art.
Transformação urbana e social
Mais do que um projeto artístico, o Paisagem Urbana também carrega o desejo de gerar impacto social. Miss destaca o acolhimento que recebeu da comunidade como uma das motivações para seguir adiante. “Fui muito bem recebida pela população local, que me permitiu liberdade artística e me cedeu o espaço com uma facilidade que dificilmente eu encontro”, afirma.
A artista também ressalta a importância de proporcionar experiências tecnológicas inéditas para a região. “Trazer isso para a comunidade é algo que me toca. Mesmo nós, artistas, raramente temos acesso a óculos de realidade virtual. Poder compartilhar isso, junto com um vídeo mapping dessa dimensão, é uma alegria. É poder oferecer acesso a algo único e diferente, tanto artisticamente quanto tecnologicamente.” Para Miss, o projeto é também uma forma de reforçar a identidade local. “Quero valorizar mais o bairro, dar aos moradores uma sensação maior de pertencimento. Que eles possam sentir orgulho da região.”
E o trabalho está só no começo. A muralista pretende expandir a iniciativa para além dos dois painéis no bairro Padre Anchieta. “Minha intenção é transformar aquele conjunto da CDHU em uma galeria a céu aberto, com obras totalmente diferentes entre si”, conta. O sonho, segundo ela, é ainda maior: “Quero transformar Campinas em uma capital das artes. Com esse primeiro projeto, quero plantar uma sementinha para que venham muitos outros.”
As Artistas
Marta Henriksen (Miss)
Multiartista, muralista, produtora e arte educadora. Miss é paulistana de coração, mas mora há muitos anos em Campinas. Mais conhecida como Miss, essa artista e muralista tem dado vida aos muros desde 2002, transformando as ruas em seu escritório criativo. Sua arte é um desfile de formas geométricas e brincadeiras visuais, sempre com um toque de alegria e diversão. “No universo artístico, me aventuro por mil jeitos de comunicar, brincar com tecnologia e paquerar a inovação! São anos de constante evolução. E o que me faz vibrar na minha área são os projetos desafiadores”, conta ela. Já fez criações para a linha feminina de perfumes Carpe Diem, d’O Boticário. Tem pinturas no Terminal Mercado de Campinas, em escolas, quadras e prédios na cidade.
Gislaine Martins (Gim)
Gislaine Martins, nome artístico Gim, é mineira, arquiteta, artista plástica e muralista. Atualmente mora em Campinas, estado de SP, onde fez sua graduação e pós-graduação na área de Arquitetura e Urbanismo. Sua arte mescla o surrealismo, figurativo e abstrato em uma composição que representa temas da psique humana. Com uma paleta de cores definida, traços fluídos e uma abordagem surrealista, utiliza a sua arte como um espelho da alma, capturando a dualidade e o conflito inerente ao ser humano. A artista criou o termo “Disparo Criativo” para descrever sua técnica intuitiva. São traços fluídos criados no momento, sem autojulgamento, permitindo que a intuição e a fluidez se manifestem plenamente. Em algumas ocasiões, Gim pinta com as duas mãos simultaneamente, se desafiando e enfatizando a liberdade de expressão. Gim utiliza predominantemente figuras de mulheres para expressar os temas da psique, frequentemente relacionados às experiências vividas pela artista ou ao universo feminino.
Serviço
Festival Paisagem Urbana
Quando: 4 de outubro de 2025, a partir das 17h
Onde: Rua Silva de Camargo Lima, nº 80 e 70, Bloco 24B, Padre Anchieta – Campinas/SP
Gratuito e aberto ao público
Foto e Vídeo: RDrone https://www.instagram.com/_rdrone/